Pesquisadores registram peixe-diabo-negro na superfície pela primeira vez: Confira

MUNDO | Cientistas da ONG Condrik Tenerife flagraram o raro Melanocetus johnsonii a apenas dois quilômetros da costa espanhola. Presença do animal em águas rasas gerou teorias conspiratórias na web.
Pesquisadores da ONG Condrik Tenerife registraram, pela primeira vez na história, um exemplar do peixe-diabo-negro (Melanocetus johnsonii) na superfície. O avistamento ocorreu no dia 26 de janeiro, a apenas dois quilômetros da costa de Tenerife, na Espanha, enquanto a equipe retornava ao porto após uma expedição sobre tubarões. A espécie, conhecida por habitar as profundezas oceânicas entre 200 e 2 mil metros, nunca havia sido vista tão próxima da superfície.
O registro histórico rapidamente viralizou nas redes sociais, onde usuários especularam se a aparição estaria ligada a eventos naturais extremos. “O vídeo desse peixe me deu uma sensação horrível de que algo muito ruim está para acontecer”, escreveu um internauta. “Se ele subiu de lá de baixo, deve estar acontecendo algo ruim no habitat dele”, comentou outro. A discussão ganhou ainda mais fôlego após um abalo sísmico ocorrido no Caribe, em 9 de fevereiro, alimentando teorias conspiratórias sobre a relação entre o comportamento do animal e catástrofes naturais.
Explicação científica
Apesar das especulações, especialistas descartam qualquer relação do avistamento com eventos sísmicos ou tsunamis. “Provavelmente, o animal estava doente para subir tanto assim”, explicou Pedro Henrique Tunes, bólogo e mestre em zoologia pela UFMG, em uma thread no X (antigo Twitter). Ele reforçou que, embora seja comum algumas espécies de peixes abissais realizarem migração vertical entre diferentes profundidades, isso não ocorre com o Melanocetus johnsonii, que permanece nas regiões mais profundas do oceano e utiliza sua bioluminescência para atrair presas.
Tunes também destacou que a fêmea filmada possui bioluminescência, um fator distintivo, já que os machos da espécie são parasitas e dependem das fêmeas para sobreviver. Em um comunicado recente, o Museu de Natureza e Arqueologia (MUNA), em Santa Cruz de Tenerife, confirmou que o exemplar registrado faleceu e foi coletado para estudos.
O misterioso mundo da zona abissal
O habitat natural do peixe-diabo-negro pertence à zona abissal, uma região localizada abaixo de 2 mil metros de profundidade, onde a luz solar não alcança. Esse ambiente extremo cobre aproximadamente 60% da superfície terrestre e abriga espécies altamente adaptadas à escuridão, às baixas temperaturas e à escassez de alimento.
Entre as adaptações encontradas nesses organismos, a bioluminescência é uma das mais fascinantes. Algumas espécies, como o Kryptophanaron, possuem estruturas luminosas sob os olhos para atrair presas, enquanto o Pachystomias (peixe-dragão) apresenta células fosforescentes ao longo do corpo. No caso do Melanocetus johnsonii, a luz emitida por um apêndice na cabeça é essencial para sua estratégia de caça nas profundezas.
A reprodução também apresenta peculiaridades, como o fenômeno de fusão entre machos e fêmeas, em que o macho se fixa permanentemente ao corpo da parceira, absorvendo seus nutrientes. Outras espécies, como o Gonostoma gracile, alternam entre os sexos ao longo da vida, enquanto os Paralepidídeos são hermafroditas e podem se autofecundar.
Mistério a ser desvendado
Apesar das explicações científicas sobre a presença do peixe-diabo-negro na superfície, o motivo exato de sua aparição ainda é desconhecido. O evento destaca a importância de continuar explorando as profundezas oceânicas e compreendendo melhor as espécies que habitam esse mundo misterioso.

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