PMs que mataram agricultor em Santa Maria agiram em legítima defesa, conclui inquérito militar.

SANTA MARIA | Conclusão do IPM isenta policiais de erro em abordagem que terminou na morte de Valdemar Both, de 53 anos, durante fiscalização ambiental na zona rural do RS
Um mês após a morte do agricultor Valdemar Both, de 53 anos, durante uma abordagem da Patrulha Ambiental da Brigada Militar (BM) no distrito de Palma, em Santa Maria (RS), o Inquérito Policial Militar (IPM) concluiu que os dois policiais envolvidos agiram em legítima defesa. A informação foi divulgada nesta sexta-feira (1º) em nota oficial da corporação.
Oferecimento:

Segundo a BM, a conclusão decorre de uma “apuração minuciosa” baseada em provas e depoimentos, e aponta que não houve erro de procedimento por parte dos agentes. A ocorrência se deu durante uma fiscalização por suposto crime ambiental, quando os policiais constataram irregularidades no uso e porte de motosserras e ausência de licença ambiental para o processamento e venda de produtos florestais.
O episódio foi registrado por câmeras de segurança instaladas na propriedade da vítima. As imagens revelam a sequência da ação:
- 16h34 – Chegada da viatura da Brigada Militar;
- 17h24 – Ocorrência dos disparos fatais;
- 17h41 – Policiais deixam a propriedade.
- 17h47 – Retornam com outras duas pessoas.
- 18h58 – Chegada do SAMU.
- Após 19h – Início da perícia.
- 21h – Remoção do corpo.
A BM alega que Valdemar teria reagido à apreensão dos equipamentos e avançado contra os policiais com um machado. Segundo a versão da corporação, os tiros foram disparados para preservar a vida dos militares diante do risco iminente à integridade física da equipe.
A família do agricultor contesta a versão oficial. De acordo com o advogado que representa os parentes da vítima, Valdemar adquiria eucalipto legalmente para revenda em forma de lenha, atividade permitida, e os equipamentos utilizados como motosserras estariam devidamente regularizados.
A esposa da vítima, Cléria Both, de 49 anos, relatou ter sido surpreendida ao chegar em casa e ouvir do filho: “Os policiais fuzilaram o pai”. Ela afirma não ter compreendido ainda o que de fato aconteceu. “Estou sem chão”, desabafa.
O filho Gabriel relembra o espírito solidário do pai durante as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em maio de 2024: “Ele não mediu esforços para ajudar os outros”. Já a vizinha Cleusa Pereira o descreve como uma pessoa “extremamente boa”.
Além do IPM, a Polícia Civil conduz uma investigação própria sobre o caso. Segundo o delegado Thiago Carrijo, responsável pelo inquérito, a conclusão deve ser apresentada nos próximos dias.
A Brigada divulgou duas notas públicas ao longo do caso. Na primeira, confirmou a morte como consequência de uma “reação violenta” por parte do agricultor, afirmando que a guarnição foi surpreendida por golpes de machado.
Na segunda nota, a corporação detalhou a ausência de licença ambiental e de autorização para uso das motosserras, classificando os fatos como infrações ambientais previstas em lei. O procedimento padrão nesse tipo de caso, segundo a BM, seria a lavratura de um Termo Circunstanciado e a apreensão dos equipamentos.
Com o IPM finalizado, os autos foram encaminhados à Justiça para avaliação, conforme determina a legislação vigente.
O caso ainda gera forte comoção e divide opiniões. Enquanto o inquérito militar isenta os policiais, a família cobra justiça e questiona a proporcionalidade da ação. A expectativa agora se volta à conclusão do inquérito da Polícia Civil, que poderá oferecer uma nova perspectiva sobre os acontecimentos do dia 1º de julho.
Share this content: