Leão XIV: o primeiro papa norte-americano é um agostiniano com raízes na América Latina

PAPA LEÃO XIV | Nascido em Chicago e forjado no Peru, Robert Francis Prevost assume o pontificado prometendo continuidade e reforma

O conclave desta quinta-feira (8) escolheu o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost como novo papa da Igreja Católica. Aos 69 anos, ele passa a ser chamado de Leão XIV, tornando-se o primeiro pontífice nascido nos Estados Unidos e também o primeiro eleito oriundo de um país de maioria protestante.

Em sua primeira saudação na sacada da Basílica de São Pedro, Leão XIV adotou um tom de conciliação e espiritualidade: “Quero que essa saudação de paz entre no coração de vocês, a todas as pessoas. Deus ama a todos, e o mal não prevalecerá”. Ele homenageou seu antecessor, papa Francisco, e disse querer “prosseguir com a bênção” do argentino.

“Sou um filho de Santo Agostinho. Um agostiniano”, afirmou Leão, revelando uma pista clara sobre os rumos pastorais e teológicos que pretende imprimir ao seu pontificado. A escolha de palavras remete à tradição intelectual, comunitária e reformista da ordem agostiniana — fundada no século XIII com base nos ensinamentos de Santo Agostinho.

Trajetória marcada pela missão na América Latina

Apesar de nascido em Chicago, Prevost fez sua formação religiosa e atuação pastoral principalmente na América Latina, com destaque para sua longa missão no Peru, iniciada em 1985. Lá, atuou em regiões carentes como Piura e Trujillo e, posteriormente, em Chiclayo, onde foi administrador e bispo por quase uma década.

Foi em Chiclayo que enfrentou o maior desafio de sua trajetória: acusações de acobertamento de abusos cometidos por padres durante sua gestão. Três mulheres afirmam que Prevost foi alertado sobre os casos em 2020 e só formalizou a denúncia ao Vaticano dois anos depois. A diocese nega irregularidades, e o Vaticano segue apurando os fatos.

A despeito das controvérsias, Prevost ganhou prestígio no alto escalão da Cúria Romana. Antes de ser eleito papa, ocupava dois cargos centrais: prefeito do Dicastério para os Bispos e presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, ambos indicativos de sua influência nos rumos da Igreja pós-Francisco.

Perfil discreto, mas reformista

Leão XIV é descrito como reservado, avesso a holofotes, mas firme em suas posições. Tem formação em teologia e direito canônico, e é visto como parte da ala reformista iniciada por seu antecessor. Ainda como bispo, criticou abusos de poder e cobrou reparações por injustiças durante o regime de Alberto Fujimori no Peru.

Sua escolha como papa parece indicar um movimento de continuidade com o legado de Francisco, reforçando a conexão com a América Latina e o compromisso com uma Igreja mais pastoral, menos clericalista e mais próxima dos pobres e marginalizados.

Leão XIV encerrou sua primeira fala como pontífice com uma oração da Ave Maria, diante de milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro. Um gesto de devoção simples, mas carregado de significado para um papa que promete união, justiça e renovação sem ruptura.